Aluno, patrão, professor, e fósforo.

Circulando nas redes um artigo recente, outro superanuado, das seções de polêmica dos jornais. Comentários abaixo.

Quando o patrão diz que o aluno não está preparado para a profissão, o patrão quer dizer que o aluno não está preparado para trabalhar para a empresa dele nos termos dele. De preferência com um conjunto de habilidades que se encaixa na cultura da empresa do patrão, e que dificulta que o aluno troque de emprego para uma organização concorrente.

Cada organização é diferente. Não é papel da universidade preparar estudantes para trabalharem em empresas específicas, nem é factível atender a essa eterna demanda dos patrões. Por isso sempre vejo com ceticismo esse tipo de reclamação patronal.

A universidade colabora com o problema cultural, organizando o ensino em carreiras estanques vinculadas a profissões regulamentadas. Essas profissões não correspondem às necessidades da sociedade em número de vagas. Muitas são mais “regulamentadas” do que profissões propriamente ditas. A organização da universidade em carreiras com conteúdos inflexíveis e supostamente necessários para as correspondentes profissões regulamentadas indica aos estudantes que aqueles que se formarem mas não utilizarem os conhecimentos recebidos fracassaram.

Essa promessa de emprego direto que não se realiza é receita para a frustração geral e causa as manifestações disparatadas como as que lemos no artigo da seção de polêmicas da Folha e no artigo “falta match” do Globo. Adicionalmente, a estatística de 3% dos formados em administração trabalhando na área parece fantasiosa. Como assim, não trabalham em negócios? Se estão empregados, o que estão fazendo? Tudo são negócios. Também trazem dúvida os 7% de formados em enfermagem na área. Tem muita gente trabalhando em enfermagem, todos sem diploma, e quem tem diploma faz outra coisa? Palpito que a enquete utilizou “água batizada”.

A universidade tem que preparar estudantes para atuar no mundo real, não no mundo das regulamentações dos conselhos federais; nem no mundo dos desejos dos patrões.

https://oglobo.globo.com/economia/noticia/2024/06/02/falta-match-formacao-superior-cresce-em-dissonancia-com-a-demanda-das-empresas.ghtml

Falta ‘match’: Formação superior cresce em dissonância com a demanda das empresas

https://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2022/06/ensino-superior-e-mundo-do-trabalho-estao-desconectados.shtml

Ensino superior e mundo do trabalho estão desconectados

Aproveito para dizer que acho um grande progresso que um física e uma engenheira disputaram a eleição mexicana, na frente dos causídicos, rábulas, beleguins, empresários, e traficantes de influência habituais. Porém o governo atual é ruim para a democracia, para a ciência, para o ambiente, para a liberdade individual. Receio que a vitória da situação cause problemas nos próximos 6 anos. Espero estar errado. #NãoConheçoMéxico

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