Imprecisões numa conversa sobre energia

“penso em dois problemas [na produção de energia solar e eólica]: primeiro, como armazenar o excedente para ter energia à noite.”

A tecnologia de armazenamento usando baterias está disponível e tem caído de custo rapidamente. O problema é levantado como obstáculo por negacionistas, mas só existiria se toda a produção passasse para solar e eólica imediatamente. Durante a transição, as fontes tradicionais continuam existindo e complementam as fontes renováveis.

“Sempre se pode vender o excedente, mas isso tem limites”

O obstáculo à venda da energia excedente pelo consumidor é legal e regulatório. Se o procedimento se tornar generalizado, existem desafios tecnológicos que estão sendo estudados e resolvidos. No mais é resistência dos produtores atuais.

“seria necessário uma política integrada e agressiva de subsídios para tornar a compra e instalação dos equipamentos”.

Hoje o custo das energias eólica e especialmente solar é menor que das fontes concorrentes. São as tradicionais que se beneficiam de proteções políticas e espalham desinformação..

“E aqui um problema político…esse tipo de geração de energia fragmentada cria muito menos oportunidades de corrupção em larga escala do que construir uma usina hidroelétrica…”

Certamente é esse o caso! Sim, é um motivo para resistência.

“Em que pese serem fontes mais limpas, com menor emissão de carbono, os efeitos sobre o trabalho não estão sendo nada alentadores: baixa geração de emprego”

Muito pelo contrário, as fontes alternativas diminuem o custo da energia exatamente por demandarem menor trabalho – muitas vezes perigoso ou desagradável. O objetivo da produção de energia não é gerar empregos na produção, mas sim gerar energia para os demais setores da economia e para o uso da população.

“pequenos proprietários… estão arrendando suas terras para instalação dos parques”

Esse é um problema fundiário, jurídico, e das relações de poder. Tem que ser resolvido politicamente, não privilegiando as indústrias mais arraigadas e destrutivas. Os prejudicados pela indústria de combustível fóssil recebem compensação nula.

“As renováveis poderiam ser uma alternativa… caso houvesse também internalização tecnológica, os principais componentes vem da China (solar) ou da Dinamarca (eólica)”

Novamente, o objetivo da produção de energia não é gerar empregos na produção de energia, mas sim gerar energia para os demais setores da economia e para o uso da população. Se o objetivo for gerar emprego, o carvão é imbatível: mineração, transporte, tratamento de saúde para as vítimas da poluição, mitigação da devastação ambiental… Melhor ainda, podemos exigir que o carvão minerado seja enterrado em outra mina, trazido à superfície novamente, e só então utilizado – isso gera mais emprego ainda!

“ou da Alemanha (hidrogênio verde)”

A história do hidrogênio verde me parece mal contada. Se for produzido a partir de combustíveis fósseis, não é verde. Se for produzido a partir do álcool, faz parte da calamidade ambiental que podemos observar andando pelo interior paulista, todo destruído por canaviais – e introduz complicações totalmente desnecessárias. Um problema que o etanol _não_ oferece é a segurança no transporte e consumo, mas a transformação de etanol em hidrogênio é um passo a mais que baixa a eficiência e cria dificuldades e riscos sem qualquer proveito.

Se for hidrogênio natural obtido diretamente do subsolo, a história é diferente – mas ainda não há comprovação de que tal fonte exista.

Adicionalmente, essa identificação da indústria de hidrogênio com a Alemanha é meio fantasiosa, assim com a identificação da tecnologia eólica com a Dinamarca é exagerada.

“Um desafio acadêmico recente são as pesquisas que buscam conectar trabalho e meio ambiente.”

Esse ponto certamente é verdadeiro! O primeiro passo é estudar a realidade como ela é, e não usar o estudo de forma a confirmar viés pré-existente.

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